quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Travessia Teresópolis- Petrópolis - E.Tiamat na Serra dos Órgãos


Desde que formamos um grupo fixo de apaixonados por montanha , a  E.T. (Equipe Tiamat), começamos a organizar melhor nosso cronograma de montanha. Antes a coisa funcionava no tranco , meio de improviso e na louca mesmo , começava com uma conversa no grupo do face, o  "Explorando Tiamat" e o perrengue tava montado. Com o tempo sentimos necessidade de nos programarmos melhor pra otimizar tempo, dinheiro e conhecer mais montanhas  , ir mais longe e além..Assim surgiu a Equipe Tiamat, apelidada simplesmente de "equipe ". Inicialmente eu ,  Terezinha e aos poucos foram entrando outros trekkeiros interessados na nossa proposta de explorar montanhas e fazer travessias. O limite de 12 pessoas pra ir com conforto e espaço pras cargueiras faz com que haja um rodízio dos integrantes nas programações, tem alguns que até agora foram em todos e tem dado muito certo. Após fazermos algumas das clássicas (Itapiroca, Tucum, Camapuãn e Araçatuba ) com o pessoal novo que foi se agregando à equipe, resolvemos testar o espirito de guerreiro de todos e fazer a travessia da Serra dos Órgãos.

A travessia tem 35 km e pode ser feita no sentido clássico Petrópolis- Teresópolis ou ao contrário, como nós resolvemos fazer : Terê - Petrô.

Abrimos um grupo no face para combinarmos os detalhes dessa investida , afinal teriamos que viajar de Floripa a Teresópolis no RJ  que fica a 1.189 km , portanto tinhamos que calcular tempo de ida e volta mais os 3 dias de travessia para faze-la de forma tranquila e aproveitar ao máximo.

Contamos com a ajuda de todos, o  Mario se destacou na logística da VAN , passou 2 semanas ajudando na manutenção da mesma, providenciando a troca do som que era só CD pra un  que tocasse mp3 e foi o responsável por pegar todos no dia da nossa saída de Floripa , uma quinta a noite 25-07-2013. 

Minha parte foi organizar,  confirmar  as inscrições no parque, reservar camping, fazer check list de equipamentos e vestuários necessários, tudo ia sendo colocado no grupo aberto no face especialmente para isso. 

Ficou com alguém a parte de baixar os track logs no GPS e equipamento de escalada necessário para dar segurança ao pessoal nos trechos críticos da trilha. O Jean Michel ficou com a parte de estudar a travessia em todos os detalhes já que ele é bem acostumado a guiar . Desta forma fomos nos cercando de todos detalhes possíveis sobre a travessia, lendo relatos, estudando mapas pra que tudo corresse tranquilo.

Fomos em 11 da Equipe : Eu, S., Terezinha Tessaro, Chico Tessaro, Djalmo, Pedro Filho, Mercia Brito, Maria Tereza, Juliana, Jean Michel e Mario Firmino.

Combinamos todos de fazer um lanche comunitário  na van pra poupar tempo e dinheiro em paradas já que o tempo de estrada era apertado pra cumprirmos o cronograma. Cada um ficou encarregado de 2 ítens e deu muito certo, comida é que não faltou durante a viagem, além da diversão e espirito de união ser reforçada com o lanchão de beira de estrada. Tinha de tudo , de cachorro quente a bolos , bolachinhas, café e coca cola..foi dez!


Conseguimos sair de Floripa às 20 hs , o Mario passou a tarde buscando cada um dos integrantes em seus respectivos bairros ou ponto de encontro e assim , após 16 hs de viagem , chegamos a Teresópolis após passar pela temida Linha Vermelha e outros pontos do RJ  que aliás, continua lindo , sempre!

Subindo a Serra e já vislumbrando um espetáculo de montanhas à nossa frente chegamos na portaria de Teresópolis  às 14 hs, onde nos identificamos, apresentamos os ingressos e entreguei o Termo de Responsabilidade assinado por mim , que garantia que conhecia os riscos e me responsabilizava pela segurança do grupo, eu estava bem tranquila pois o grupo era bom e já tinha demonstrado isso em programações anteriores.

Seguimos da portaria até a barragem, onde deixamos as cargueiras e o pessoal, enquanto todos se ajeitavam e faziam ultimos ajustes no equipamento, Mario foi  levar a van até a pousada, local de estacionamento, enviamos mensagem para um motorista que faria nosso resgate ao final da travessia em Petrópolis e nos traria de volta para a van em Teresópolis e assim após conseguirmos o milagre de colocar tudo nas pesadas cargueiras (comida pra 3 dias, barraca e roupa de frio extra) pegamos o inicio da trilha com aquele característico friozinho na barriga da emoção que começa ao iniciar travessia desconhecida.

O tempo havia sido monitorado por 2 semanas e fomos brindados com final de semana maravilhoso, frio e limpo, exceto a sexta 26-07  que havia possibilidade de chuva, mas que nada , saimos com tempo seco, a sorte estava do nosso lado até nisso. 



Ao contrário da travessia clássica que incia com a subida do Açu, iniciamos a nossa por Teresópolis portanto iniciando a subida às 14:30   pela trilha rumo à Pedra do Sino. A subida é suave porém um zigue zague interminável e com as cargueiras pesadas foi bem cansativa , a previsão era de 6 hs de subida até o Abrigo Quatro que fica próximo ao topo do Sino . Subimos todos num ritmo parecido,  com o Jean  à frente  e eu  fechando a trilha. A trilha do Sino é muito demarcada e sem possibilidade de erro, assim cerca de 20 hs os que estavam à frente chegaram ao Abrigo Quatro , estava bem frio e o ultimo trecho foi feito com muito nevoeiro o que nos fez duvidar se não tinhamos passado do Abrigo, após conferência no GPS verificamos que ainda faltava um pedaço , e avistamos o Jean e Chico  Tessaro voltando pra nos avisar que já estavam todos se instalando no local de acampamento.


No Abrigo Quatro a hospitalidade foi um show  a parte, o Charles e outros responsáveis pelo abrigo nos acolheram muito atenciosamente. Enquanto todos montavam suas barracas , o Sergio que já apresentava sinais de uma virose, pagou diferença pra dormir dentro do abrigo de bivaque e tbém  uma taxa de R$ 40,00 para que todos pudessemos utilizar a cozinha e jantarmos juntos no abrigo pois lá fora estava bem frio, cerca de -3 graus e estavamos bastante cansados.A Maria Tereza utilizou o banho do abrigo, taxa de R$ 10,00. 

A janta foi macarrão com molho de atum e creme de leite, além de outro molho vermelho e sobremesa um delicioso brigadeiro de panela da Terezinha, onde todos colaboraram , também rolou café e chocolate quente, enfim, perto das 22 hs todos fomos dormir e nos preparar pro segundo dia da travessia.

No dia seguinte todos tomamos café no abrigo e enquanto alguns levantavam acampamento, outros rumaram para a Pedra do Baleia, quase no topo do Sino de onde tiramos fotos magníficas com mar de núvens e os picos de montanhas mais abaixo aparecendo. O Djalmo cumpriu a promessa e levou duas lindas bandeiras , uma do Brasil e outra da Argentina o que rendeu lindas fotos naquele lugar .


Após muitos agradecimentos , inclusive no livro do abrigo, nos despedimos do pessoal do Abrigo Quatro e 9:40 iniciamos a trilha do Sino ao Açu, eu já havia lido nos relatos que esse trecho é mais complicado, pois tem partes íngremes emparedões além de não ser tão demarcada apresentando inúmeras trilhas em várias direções, mas o Jean havia conversado bastante com os montanhistas que estava no abrigo e munidos de mapas e GPS nada nos preucupou, tomamos a trilha que vai em direção ao Sino , que vai contornando o paredão à direita  pela encosta rochosa, chegamos ao temido cavalinho! Não achamos tão assustador apenas um pouco complicado por ser beirando um abismo gera um pouco de tensão, o Jean desceu sem nada, eu , a Mercia e Djalmo descemos na sequência com ajuda de uma corda e pros demais foi providenciado  uma cadeirinha o que os fez descer sem problema nem risco algum, as cargueiras foram puxadas previamente pelo Mario que subiu e desceu várias vezes o cavalinho.

Dali pra frente é só descer e estamos na base da Pedra do Sino, um local chamado de Vale dos 7 Ecos, após tem um morrinho de onde se pode avistar o Garrafão mesmo parcialmente encoberto pela neblina a visão foi espetacular, a trilha agora desce e vai dar num local chamado Vale das Antas, onde há várias bifurcações e após este trecho se sobe para o morro à frente chamado de Cabeça de Dinossauro bastante enlameado , seguimos em frente e após mais um vale subimos o Morro da Luva , sempre com visões maravilhosas pra todos os lados , o segundo dia de travessia é incrível se sobe e desce vários morros e vales e pra mim é a melhor parte já que particularmente adoro andar em crista, com visual sempre alto e aberto, e assim após chegarmos a enormes lajes de pedra com vários marcos sinalizando o caminho tomamos a direita em direção ao Morro do Marco, mas antes tivemos que descer uma encosta bem íngreme com uma imensa escadaria de grampos apelidada de elevador, todos desceram sem menor problema, porém grupos que faziam no sentido contrário ao nosso tinham que subir, o que torna esse trecho bem cansativo. O Mario fez o que mais gosta, ajudar no perrengue, alguns montanhistas travaram na subida pelo cansaço e pelo medo , ele se ofereceu para levar a cargueira deles , desta forma subiu e desceu o "elevador" umas duas vezes...rsrsrs. Após esse trecho tem um outro mais a frente que não é tão difícil mas exige cuidado que é uma laje bem íngreme onde , no nosso caso, teriamos que subir, qualquer errada ali é pode gerar uma queda bem feia , é o chamado corrimão, mesmo assim a maioria subiu sem problemas, uma turma que descia esticou uma corda que ajudou a mim no finalzinho e à Maria Tereza tbém. 




O grupo no geral tinha o mesmo ritmo, com Jean à frente e alguns adiantados mas que ao parar para descanso e lanche eram  alcançados pelos que vinham atrás , desta forma todos andamos meio que juntos, separados ocasinalmente pelo ritmo mais forte de alguns mas logo a frente novamente todos juntos novamente. Destaque para o Djalmo que embora tenha um dos ritmos mais fortes do grupo sempre preucupado com os que vinham atrás, muitas vezes atrasava o ritmo para esperar os ultimos da fila.


A Terezinha foi a fotógrafa oficial, munida de duas câmeras não perdia um lance e com muito boa vontade registrou momentos do grupo todo. O Pedro Filho outro de excelente performance na trilha também vinha registrando amigavelmente a todos do grupo. 

Destaque para Mércia Brito no quesito boa vontade e simpatia, sempre bem disposta , não reclama de nada e embora venha de região quente, Natal, achau tudo lindo , inclusive o frio da montanha a mais de 2.000 mts de altitude.

Maria Tereza, outra guerreira, vinha em cólicas , por estar naqueles dias, porém só saia agradecimento e felicidade da boca dela, feliz de estar tendo a oportunidade de participar da travessia mais linda do Brasil . 

Ainda tivemos um belo almoço na cachoeira no meio da trilha, numa encosta íngreme mas que nos brindou com água fresca e limpa pra fazermos almoço e nos refrescarmos, conferimos o mapa e vimos que estavamos na metade do trajeto pra esse dia e assim resolvemos apressar o passo.  

Do próximo ponto alto, o Morro do Marco já viamos os castelos do Açu  e nesse momento um denso nevoeiro fechou nossa visão, foi uma pena , pois é dali que se tem a visão clássica da Serra dos Orgãos, o Dedo de Deus, Escalavrado e Cabeça de Peixe. Mesmo assim conseguimos algumas fotos uafaa




Ainda tinhamos mais uma descida pra depois subir o Açu para o abrigo,  e na metade da descida após o espetáculo registrado por todos do crepúsculo na Serra dos Órgãos explodindo em tons de vermelho e rosa com os raios do sol nos acenando, caiu a noite...

Com o fim da descida e a vinda da escuridão, todos ligamos as lanternas e iniciamos a subida para o Açu, já mal visualizando a trilha pois o nevoeiro era tão denso que só se via ...o nevoeiro! Subimos um a um e o na metade da laje da subida sentou dizendo que a cabeça parecia que ia explodir , e assim na escuridão, todos do grupo pararam e sentaram um pouco acima  pra esperar o guerreiro se recuperar , o frio era cortante e todos sentaram próximos para se aquecer, não sabiamos bem a quanto estavamos do abrigo e nem sinal de trilha pelo denso nevoeiro.  Derrepente à esquerda  avistamos luzes que  achamos ser o abrigo, pois sabiamos estar perto, euforia geral de receber sinais no meio daquele nevoeiro grosso , frio e escuridão, fomos em direção às luzes e constatamos ser de 2 montanhistas que acampavam próximo ao Abrigo que já estava perto. Mais 200 mts e chegamos ao abrigo. 

Infelizmente o responsável pelo abrigo, Sr Hamilton, não demonstrou a mesma amabilidade e hospitalidade do outro abrigo, ele parecia mais preocupado com o papo com outros montanhistas já dentro do abrigo  que interrompemos ao chegar.  Perguntou se conheciamos o local, pois não poderiamos montar barracas ali e sim atrás do castelo de pedras do Açu, respondemos que não conheciamos, ao que ele disse que era "fácil" , "só contornar o castelo", parecia incomodado com nossa presença e disse que se quisessemos usar cozinha ou água somente até as 21 hs e entrou no abrigo apressadamente nos deixando a todos meio sem sabe para onde seguir. O nevoeiro era muito denso e não se via nada, tentamos achar a área de acampamento mas se tornava cada vez mais difícil, felízimente um montanhista, o Felipe Barros nos encontrou e fez questão de nos levar até o camping, não fosse ele andariamos naquele nevoeiro sem enxergar nada por mais tempo ainda.  Nossos agradecimentos ao amigo Felipe que demonstrou o verdadeiro espirito da montanha, ajudar uns aos outros, afinal todos um dia podemos precisar e no outro podemos ajudar.

Montamos nossas barracas sob um frio intenso e vento também, não muito forte mas o suficiente para atravessar de forma cortante as nossas roupas em qualquer frestinha que houvesse congelando a alma...

A maioria se apressou em montar barracas, lado a lado, e fazendo sua janta individualmente pela questão do frio. O Jean muito prestativo buscou água para todos na minha mochila e enfrentou a descida até o abrigo voltando carregado de cantis e garrafas de água, naquela escuridão e nevoeiro foi um ato bem corajoso. Em agradecimento a Terezinha convidou um delicioso macarrão e chocolate quente pra Jean e o Mario aproveitou a ocasião  indo jantar lá tbém.

Passei bem à noite , meu saco de dormir do Trilhas e Rumos -17 extremo, tolerancia -7 e zero conforto, se portou bem. Após fazer uma jantinha quente , macarrão com calabreza e queijo ralado e café com leite pra esquentar  adormecemos placidamente, mesmo com os gritos de um grupo de crentes escandalosos que gritavam como se estivessem numa rave enlouquecidos...nunca tinha ouvido louvor a Deus misturado com palavrões e algazarras, mas deve ser uma nova modalidade....



De manhã fui a primeira a acordar e avistar o mar de nuvens perfeito a frente da nossa barraca, a visão dos castelos do Açu erguido acima das núvens majestosamente com os primeiros raios de sol foi de dar nó na garganta, mesmo com pena de interromper o soninho dos companheiros não resisti em chamá-los para o espetáculo. Como sempre Djalmo e Pedro Filho os primeiros a me fazer companhia, em seguida foram surgindo de suas barracas as carinhas amassadas pelo sono: Mario, Jean, Mercia, Maria Tereza, Chico e Terezinha..Foi um amanhecer maravilhoso, pra registrar na nossa memória e máquinas digitais para sempre! Fomos até o castelo do Açu e encontramos amigos lá que haviam amanhecido no castelo para ver o nascer do sol, magnífico, espetacular, emocionante, faltam adjetivos, os raios de sol banhavam a todos como que abençoando a presença de cada um ali , em qualquer direção que se olhasse a imponência da natureza se mostrava grandiosa em todo seu esplendor e beleza!




Enfim, estasiados e felizes, tomamos nosso café matinal, e começamos a desarmar acampamento , o Mario tinha uma difícil mas honrada missão, descer o morro do Açu correndo pra chegar na frente de todos, pegar o taxi e buscar a van em Teresópolis, desta forma economizaria metade do dinheiro nessa operação indo resgatar a van ao invés de irmos todos e pagarmos 2 veículos grandes. Diga-se de passagem o Mario é especialista em cumprir missão, fez o prometido e quando chegamos lá embaixo na sede de Petrópolis ele já vinha chegando com a van.  Mas ele não teria conseguido sem a colaboração do Chico Tessaro e do Jean que para que ele pudesse ir mais leve dividiram o peso da barraca em suas mochilas. Trabalho em Equipe é isso!

A descida do Açu é íngreme, mas muito demarcada, sem mistério , há pontos de água pela trilha e lugares lindos pra descanso e tirar fotos como a Pedra do Queijo e o Ajax, já no final há um rio maravilhoso onde se pode tomar banho e beber água como foi meu caso que não resisti e mergulhei a cabeça e me molhei toda com aquela água maravilhosa, gelada e abençoada!

 , Jean, Djalmo e Pedro  chegaram na frente indo almoçar num restaurante de comida caseira ótimo a 300 mts da portaria do parque, os restantes chegamos 10 minutos depois e fomos atrás do rango também! Chegando lá eu e Maria Tereza combinamos de tomar aquela gelada, mas uma pra cada não foi suficiente, tomamos duas cada uma,êeeeeeee só alegria. A travessia foi um sucesso em todos aspectos e provou que realmente somos uma equipe, cada um deu melhor de si e estava feliz de poder estar ali. Logo que o Mario organizou o embarque de todos e suas respectivas cargueiras ,  foi almoçar com a gente também.

A volta foi tranquila e chegamos em Florianópolis sem muitas paradas na segunda feira 29-07 às 08 da manhã , cansados mas felizes e já mirando nosso próximo objetivo nos dias 10 e 11 de agosto: PP no amado Ibitiraquire -PR.