Quem sugeriu
esta trilha foi o Jurandir Constantino, vulgo Jura ou Juramidam como gosto de
chamar este ícone do montanhismo e que se tornou um amigão , parceirão e guia de trilhas épicas duas as quais tive a honra e
sorte de participar, a ultima delas a 7C no Ibitiraquire.
No decorrer
de 15 dias foram-se juntando outros guerreiros e guerreiras também interessados
nesse desafio que, segundo informações que fui colhendo era meio “perrengoso”....
Sempre que tenho curiosidade de saber de uma trilha ou montanha recorro ao site
do AltaMontanha e me divirto ao ler relatos e causos da montanha da vez. Li um
do Jorge Soto , e já fui sentindo que a caminhada ia ser árdua...
Eu , como sempre temos que fazer uma série de acertos no trabalho, nossa
agência no aeroporto, na família deixando as crianças em segurança e tranquilas
toda vez que vamos pra serra paranaense, e isso demanda peripécias na logística
e bastante sacrifício como sair no sábado às 4 da manhã de Floripa pra enfrentar 4 horas de estrada após ficar até a
meia noite de sexta feira arrumando as cargueiras....
Já na
estrada a caminho do Paraná fui curtindo animadamente curtindo leitura da épica Alpha Crucis , um doc que o Elcio nos passou gentilmente pra lermos
antes da publicação oficial.
Perto das 8
hs avisamos via telefone ao pessoal (que já estava no inicio da trilha) que nos
aproximávamos de Guaratuba e ainda tínhamos a balsa para atravessar.
Acertadamente eles decidiram iniciar a trilha cedo pois o Elcio Douglas, Miguel
e Debora fariam de bate e volta e era prudente começar logo. Juntamente com eles iniciaram às 8:30 o
Frederico , Juliana Hoy e Cintia Eliane , ficando o Jurandir a nos esperar
perto da BR 277.
Perdemos muito
tempo na balsa, cerca de 1 hora, e somente as 10:20 pegamos o Jura pra depois pegarmos uma estradinha que
atravessa vários riachos indo em direção
ao Sitio , onde um senhor nos cedeu lugar para estacionar em troca de uma
colaboração espontânea. Ajeita daqui e ajeita dali, nos despedimos do sinhozinho do sítio que já
avisa que longe ele vê uma núvem e que no dia anterior estava mais
limpo...assim às 11 horas iniciamos atravessando o riacho saltitando em pedras , tarefa simples e à toa
pra todo mundo mas que pra mim é um inferno pelo pouco ou nenhum equilíbrio que
tenho , mas embora reclamando e meio desequilibrada sempre atravesso esses rios
com alguma ajuda e muita paciência lógico. A trilha inicia tranquila
e pra minha surpresa adentra um bosque lindo, aberto com suaves subidas , na verdade é uma curtição esse início, ainda
mais com a prosa agradável em que íamos .... após uma hora de caminhada chegamos no
primeiro ponto de água, um agradável riacho de água deliciosa onde paramos pra
primeira fotinha.
Encontramos alguns caçadores que também param pra se
refrescar e tomar água , e após uns 10 minutos trocando informações sobre a trilha
mais adiante, seguimos pois tem muita coisa pela frente. A trilha continua
bonita e bem aberta , conversando e tentando seguir o Jura que pacientemente
nos espera cada vez que se distancia chegamos a um deslizamento á direita, enorme e assustador imaginar tanta terra descendo assim. A partir dali a subida vai
apertando e ficando mais inclinada, passamos pelo tal rancho dos macacos que na
verdade é um tronco caído e uma pequena clareira onde encontramos a jararaca
morta sobre a qual os caçadores nos avisaram que estaria por ali... antes dessa
tínhamos encontrado uma outra jararaca, essa bem viva mas pequena ainda , que
apenas deixamos passar pela trilha...susse!
Subida ficando
ma e nem penso em
reclamar por saber que ainda estamos longe, talvez nem na metade...derrepente o
Jura escuta algumas vozes , eu paro de respirar inclusive pra tentar ouvir mas
nada, essas vozes são perceptíveis apenas pro Jurandir...uns 20 minutos adiante
aparecem os donos das vozes : Elcio Douglas, Miguel e Debora os quais já
estavam voltando pois tinham ido de ataque mais cedo... a alegria foi geral né,
paramos todos , cada um arruma um canto pra sentar e após algumas informações
de como está o cume o Elcio começa a contar os causos dele do trem da morte na
Bolivia o que arranca gargalhadas gerais, pois além de um puta montanhista o
Elcio é uma baita tirador de sarro dos próprios perrengues e sabe como ninguém
contar essas situações hilárias fazendo a todos esquecer que tínhamos que
prosseguir, quase uma hora depois de muita festa e algumas fotos no meio do
mato, cada turma seguiu seu rumo, nós pra cima e eles morro abaixo onde iam
tomar sorvete em Morretes... pela lama que eles traziam nas botas vi que a
trilha não seria tão seca assim lá pra cima...
Exatamente
desse ponto pra cima a trilha muda drasticamente, o Jura simplesmente dispara
vendo que dali pra frente mesmo sem conhecer não tinha erro e agora eram
escalaminhadas fortes por rochas cheias de limo mas com algumas boas raízes pra
se agarrar ..... e tome piramba acima, uma atrás da outra, embora esses trechos
exijam mais, eu sempre prefiro pois a ascenção é rápida, mas nem tão rápida
assim , na verdade quando parecia não ter mais fim e depois de umas 2 horas tocando pra cima saímos no aberto onde fica bem agradável pois
se percorre uma crista e vc já pode ter a primeira visão daonde quer e vai
chegar, mas que ainda está bem longinho..rsrsrs
Percorrendo
essa crista curtimos bastante o visual , tiramos fotos e começamos
a passar por todo pessoal do CPM que fazia de ataque essa trilha e voltavam
suados, ofegantes e enlameados, cumprimento daqui e dali, alguns nos avisam que
lugar pra acampar não tem mais pois um certo indivíduo havia montado uma “tenda
de circo” tão grande que alguns que tinha ido pra acampar haviam desistido pela
falta de espaço, rsrsrsr, presumimos que o indivíduo era o Fred que não importa
a montanha sempre leva uma casa na cargueira ....
A Crista
realmente apresentava trechos de muita lama e era impossível evitar alguns
escorregões, após um sobe e desce chegamos no ultimo ponto de água que segundo Elcio
ficava a 20 minutos do cume, ali enchemos as garrafas,
fazemos um gostoso suco com quela água fresquinha e embora cansados nos
animamos , afinal aquela trilha sem fim parecia chegar ao seu final. .
Após esse ponto de água avistamos o que seria o cume, na verdade 2 pedras onde
se podia distinguir numa delas a figura comprida do Jura rsrsrs, num certo
ponto a trilha se bifurca ....mais um desce e sobe
enlameado pra depois investir na subida final , sobe , sobe e a visão é absurdamente fantástica nesse ante-cume,
mares de nuvens, raios de sol refletindo no horizonte , fazem a gente parar pra
tirar algumas fotos e filmar essa subidinha final, e após circundar uma
gigantesca rocha finalmente as 18 :30 chegamos no mocó do acampamento onde fica
a pedra do cume, e onde também pudemos verificar uma pequena barraca ao lado de
uma gigantesca , a tenda de circo do Fred ! Ainda achamos um espaço ao lado de
uma greta enorme pra montar a barraca.
Escutamos a
conversa animada da Juliana Hoy, Cintia, Fred e Jura no cume acima na pedra mas
estávamos tão cansados e com fome que montamos a barraca pois já estava escuro
e nós mortos de cansaço e fome. Deixamos pra subir a pedra depois do rango , mais
tarde quando fosse a chuva de meteoros marcada pra essa madrugada....
Não estava
tão frio, portanto resolvemos cozinhar do lado de fora, macarrão parafuso , calabresa
e queijo ralado com suco claro.
Foi uma
alegria conhecer as meninas valentes , já bem conhecidas pela galera
montanhista do Paraná, a Juliana Hoy e Cintia Eliane, já havíamos cruzado com
elas e o Junior no Ciririca , mas desta vez estávamos na mesma montanha,
acampando e dividindo a experiência, foi especial!
Após a janta
cada um se enfiou em sua barraca e Jura bivacou no cume, ô bicho corajoso, nem
se enrolou na lona amarela, simplesmente no saco de dormir, o legítimo
rocambole de onça azul!
Fomos deitar
e descansar um pouco pra cerca de uma da manhã acordarmos, e sairmos da barraca
com cuidado pra não cair na greta decidimos que já dava pra ir dar uma espiada
no céu , lá na pedra, subimos e nos ajeitamos meio desanimados pelo céu estar
encoberto, porém em alguns minutos a nuvem se dissipou e pudemos ver a lua , as
estrelas, um belo firmamento e as luzes de Paranaguá beirando o mar....foi lindo!
Porém não demorou muito aquela visão sumiu e estávamos novamente dentro de uma
núvem. Decidimos dormir , descansar pois a volta nos aguardava no dia seguinte.
O dia amanheceu
branco, fechado, uma núvem só...mesmo assim após um café quentinho e alguma
prosa com os vizinhos das barracas ao lado subimos todos pro cume na esperança
de alguma abertura pra bater fotos...
Foram poucas
as chances, mas em qualquer aberturinha era aquela gritaria e corre pra cá e lá
pra sair uma foto com alguma visão kkkkkkk não sei como numa dessas quase não
nos atiramos nos precipícios...mas foi muito bom!
Descemos ,
assinamos caderno, acampamento desmontado e cargueira nas costas , botamos pé na trilha não sei bem que horas....a turminha
mais rápida foi na frente e eu no nosso ritmo,sem muita pressa já que
descida pra mim até o músculo aquecer é sofrido...ainda nos encontramos na bica
perto do cume onde todos aproveitamos pra lanchar, um lanche comunitário ,
conversar e onde também passaram por nós em direção ao cume 2 rapazes que
faziam de ataque. Pelo fato da primeira parte ser pirambenta e eu descer devagar , com todo cuidado, quando cheguei na parte de descida em terreno
mais firme aí sim dei aquela acelerada ...já la embaixo, tem uma errada (trilha)logo vi por onde por onde seguia a trilha correta, mas comecei a escutar
vozes e avistei dois rapazes que mais cedo estavam
chegando no cume , eles haviam encontrado o cume fechado e voltado rapidamente
porém em algum ponto, talvez pela rapidez, saíram da trilha, por sorte escutaram nossas
vozes e e mostrei pra eles a continuação ao que respiraram aliviados,
vendo que não estavam perdidos afinal... e assim daquele ponto mais 20 minutos
saímos no riacho início da trilha, onde com muito gosto tirei minhas botinas e
enfiei os pés naquela agua geladinha .....ahhhhhh muito bom!
Os
finalmentes:
A trilha é
linda, aberta, bem demarcada embora com algumas bifurcações.
É pesada pra
ser feita de cargueira porém pra ser feita de ataque é muito extensa, há que se
pensar qual melhor alternativa, no meu caso prefiro sofrer com a cargueira mas
chegar sem pressa de voltar, pois é muito esforço pra ficar 5 minutos no cume e
voltar..minha opinião!
Vale a pena
pois a montanha é linda, tem seus perigos, não se pode chamar de trilha fácil,
na verdade é difícil pela exaustão , alguns trechos confusos , encontramos 2 jararacas no caminho, mosquitos
assassinos e uma pata de onça foi fotografada por uma pessoa não lembro bem quem foi rsrsrsrs
Como toda
montanha deve ser respeitada e não é mesmo um passeio no parque..cansa pouco menos
que um PP ou Ciririca eu diria...vão e tirem
suas conclusões!