O Monte Roraima, sempre me fascinou , desde que iniciei no montanhismo, foi uma foto dele que me inspirou a começar essas incursões, porém o custo elevado e dias disponíveis necessários para compor uma boa logística sempre afastavam de mim a esperança de fazê-lo a curto prazo.
Foi então que comecei a teimar com a ideia de que era possível entrar nessa empreitada com mínimo de recurso e resolvi montar minha própria logística, procurando eu mesmo guias independentes não ligados a agências, pesquisar passagens, pousadas, câmbio, transportes e tudo que envolvia a expedição desde a ida até Boa Vista , atravessar a fronteira com a Venezuela e então subir e explorar o Tepuy Monte Roraima.
Nas primeiras pesquisas que fiz já surgiu a primeira condição : montar um grupo! Se você quer subir o Roraima a um preço econômico , esqueça a ideia de fazê-lo sozinho ou em dupla que seja. A expedição requer guia experiente , porteadores (uma espécie de sherpa que carrega barracas, utensílios de cozinha , barracas e até um banheiro móvel), pois o cume do Roraima tem uma extensão de 90 Km de um território estranho e clima imprevisível.
Lancei a ideia a alguns amigos que já haviam feito viagens e montanhismo independente comigo e a ideia logo atraiu vários aventureiros, mas loógico efetivamente foi abraçada por apenas alguns. Chegamos ao número de 8 pessoas , o que dava um grupo aceitável para os guias da Venezuela montarem a expedição a preço justo.
O valor cobrado pelas agências brasileiras é superior ao das agências venezuelanas, como o país está em crise o real vale muito lá e como todo povo sofrido e carente muitas vezes aceitam fechar grupos encima da hora cobrando as vezes menos da metade do valor normal. Mas não era essa minha ideia, se por um lado as agências brasileiras ofereciam pacote completo por valor alto também não queria aceitar subir sem um mínimo de segurança e condição , comecei a comparar os relatos e vi que pacotes baratos nem sempre são aconselháveis, guias não tão comprometidos , a comida insuficiente e estragada , entre outras coisas...
Foi então que esbarrei no nome de um guia independente da Gran Sabana , ( como é denominada a região que abrange : o Parque Nacional de Canaima , a Savana e também a cidade de Santa Elena de Uiaren ) um guia experiente que havia sido mencionado em alguns relatos como excelente pessoa e de vasto conhecimento , o Gregory Lanz. Em um site colhi e-mail e telefone e logo entrei em contato , em um par de dias fui respondida solicitamente por ele, que negociou um bom preço para a expedição com boas condições , sendo exclusiva para nosso grupo.
Nessa altura ainda era Fevereiro de 2016, minhas férias seriam em julho assim como de meu namorado o Elder Di Moura, logo montei o grupo no Whats App com os interessados e começamos a discutir uma data. Julho não parecia boa ideia pois chove demais no Roraima, pesquisei as passagens e vi que havia uma boa janela de preço baixo em setembro, coincidindo com a época em que o tempo na Gran Sabana é mais seco e com sorte daria pra curtir as cachoeiras e rios pelos quais passamos para subir o Roraima sem risco de atravessá-los. Todos deram seus pulos no trabalho e conseguiram férias na data proposta : 15 à 27/09. O trekking compreendia 8 dias, mas para ir ao Roraima é recomendável separar 2 dias antes e 2 depois do trekking. Como todos dependemos de vôos de outros estados é bom ter essa margem,. Ao chegar em Boa Vista , estado de Roraima ,ainda tem a viagem de 4 horas até a cidade de Santa Elena de Uiarén e o tempo de preparo da expedição junto ao guia até o dia do trekking efetivamente que parte do Parque Nacional de Paraitepuy, De Santa Elena até o parque são mais 2 horas .
Enfim todos conseguimos os dias necessários , houveram baixas importantes como o Pedro, que ajudou em tudo , até na compra das passagens porém quase na reta final teve problemas pessoais que o impediram de ir. E assim aqueles que desistiram foram sendo substituídos por outros aventureiros. Ao final fechamos um grupo de 8 como havia sido combinado com o Gregory : Eu (Diana) , Elder, Djalmo, Cidha, Mercia, Hélio , Gabriel e Joara. Todos já havíamos feito montanha juntos em outras ocasiões então ficou bem divertido e um clima de intimidade bom desde o começo.
Elaborei um roteiro com horários de vôos e dicas importantes sobre documentação , vacinas, câmbio, vestuário e etc, mas duvido que alguém tenha lido pois as perguntas eram frequentes, tudo era motivo de festa e ansiedade crescia, falávamos todos os dias pelo whats e dividíamos as incertezas e percalços que passávamos dia a dia até chegar o dia do embarque : 15/09/2016.
Eu e Elder tivemos nosso vôo cancelado pela TAM, ou LATAM, e não havia conexão possível saindo de Florianópolis no dia 15, sendo assim nos propuseram sair de Curitiba na manhã do dia 14/09, o que nos fez ir de busão de Floripa até Curitiba e enfrentar uma provável madrugada gelada na rodoviária, porém o que nos salvou foi o UBER que resolveu nosso problema rapidamente por menos da metade do valor de um táxi , e com serviço excelente, salve o Uber! Nos deixou a salvo no aeroporto Afonso Pena com tempo suficiente pra aguardar o check in abrir e poder embarcar no horário previsto
Os demais integrantes saíram de Floripa no dia 15/09 mas não sem antes enfrentar todo tipo de adversidades: dias antes houve suspeita de uma doença viral em um dos integrantes, o Hélio, que ao fim era alarme falso. No dia do embarque todos saíram com tempo de sobra de casa para a ida ao aeroporto porém , houve um acidente envolvendo vítimas fatais no túnel que dá acesso ao sul da ilha onde fica o aeroporto, houve protestos e manifestações noutro ponto do trajeto e como se não bastasse 1 km antes de chegar ao aeroporto um mangue transbordou pela maré invadindo a pista de acesso gerando filas quilométricas, foi de cinema o desespero, mas ao fim todos conseguiram embarcar!
Quanto a nós , ainda no dia 14/09 , após várias conexões fomos percebendo a diferença de clima já ao desembarcar em Brasília que parecia um forno, mas era nada comparado a Boa Vista, onde o ar quente parecia de um deserto da África, contrastando demais com o clima fresco , quase frio que fazia em Floripa. Nos dirigimos ao setor de |Taxis e pedimos que nos levassem até o terminal de Taxi coletivo onde pegaríamos outro para Santa Elena de Uiarén - Venezuela. Essa corrida de 5 minutos custou R$ 40,00 um absurdo de caro se comparado aos mesmos R$ 45,00 que pagamos de Boa Vista até Santa Elena , uma viagem (internacional) de 4 horas! O táxi é tipo lotação vão até 5 passageiros + bagagens e passa pela ultima cidade brasileira que é Pacaraima e atravessa a fronteira para Venezuela. O taxista disse que não era necessário passar na aduana e pegar o permisso, porém de antemão eu já sabia que isso podia gerar complicações na volta, então solicitei que parasse para fazermos os trâmites. Em cinco minutos vc apresenta a identidade e recebe um papelzinho que é o seu permisso onde você informa quantos dias vai ficar no país.
Da fronteira até Santa Elena é bem rápido , uns 15 minutos e você já vai percebendo as diferenças: um país rico em paisagens , porém devastado pela crise onde tudo falta , e a toda hora a guarda bolivariana passa em seus Jipes lotados de soldados armados até os dentes, mas ninguém nos parou ou incomodou e assim seguimos até a pousada Lauberge. Pousada que o próprio guia nos indicou e foi a melhor coisa ter seguido a indicação. Em Santa Elena falta água frequentemente porém a pousada tem água a vontade já que possui poço artesiano, além do mais os quartos são limpos, tem ar condicionado ( a maioria das pousadas da cidade só tem ventilador) e um luxo lá por aquelas bandas: possui chuveiro com água quente. Além disso a pousada possui depósito para os aventureiros deixarem a bagagem que não vão levar para o trekking até o retorno. O único defeito é não ter café da manhã, porém tem duas ótimas padarias ali perto com café com leite delicioso e sanduiches e salgados diversos, tudo muito gostoso. A pousada fica no Centro da cidade perto de tudo e isso também facilitou muito. Como o bônus pra quem ama os animais, a pousada tem 3 pastores alemães e um Golden lindo de morrer todos dóceis com os hóspedes, mas excelentes guardiães com os de fora.
Deixamos as coisas na pousada e após um banho gostoso fomos conhecer a cidade... Santa Elena vive do turismo em torno do Monte Roraima, é cheia de lojinhas que vendem equipamentos de montanhismo, pousadinhas para os mochileiros e comercio local tudo muito simples, mas não chega a ser precário, e não faltou nada pra nós. Procuramos um lugar para comprar cerveja já que tínhamos frigobar no quarto, porém para nossa decepção eles não vendem a cerveja sem casco para troca , e latinha de cerveja é mais raro que diamante por lá, a opção que resta é tomar em copo de plástico na calçada, e tomamos com muito gosto uma Polar Light cada um pelo valor de 500 bolívares ou seja , sai R$ 1,50 + ou - , atualmente o valor do Bolívar por lá é 350 para 1 real.
O Câmbio não vale o trabalho, todos os estabelecimentos aceitam real e o fazem pelo valor do cambio negro, ou seja é inútil trocar R$ 100,00 e sair com uma mochila cheia de bolívares que só podem ser contados com ajuda de uma máquina de contar dinheiro. É muito mais fácil pagar em real mesmo que é feito praticamente o mesmo valor do cambio negro e você não precisa andar com uma mochila de bolívares difíceis de serem contados por serem muitas notas. Um café por exemplo é R$ 1.000 bolívares ou R$ 3,50. Mais vale pagar em real e não se incomodar com contagem de notas que não valem nada praticamente.
Os cambistas estão em cada esquina, porém cuidado, muitos se aproveitam da quantidade de notas que sabem que você não vai conseguir conferir e acabam entregando menos bolívares, aconteceu conosco, porém fomos a uma padaria e pedimos pra contar na máquina e verificamos que faltavam 2.800 bolívares, voltamos lá e o cambista nem discutiu e nos deu o que faltava...
Rua Central de Santa Elena de Uiarén |
Bolívares sendo contados |
Estamos ricos, SQN ! |
Praça Simon Bolivar |
Djalmo, Cidha, Helio, Mercia e Joara chegariam no dia seguinte 15/09 , exceto o Gabriel Good Neto que por culpa de um atraso da GOL acabou tendo que pernoitar em Guarulhos e chegaria só no dia 16/09. Nesse momento tive a confirmação de que foi acertada a logística de chegar 3 dias antes na pousada. Vôos cancelam e atrasam e assim todos tivemos tranquilidade para nesses dias esperar os que iam chegando , entrar em contato com o guia, comprar algumas coisas na cidade e já ir nos ambientando com tudo. Santa Elena apesar de pequena e simplória nos divertiu um bocado, a noite ao som do regatton ou ritmos 'venezolanos' íamos comer cachorro quente ou pizza e tomar a Polar Light pelas calçadas, tudo em meio a muita diversão e clima de espera pelo dia 18/09 dia de início da tão esperada expedição ao Monte Roraima.
O Gregory apareceu 2 dias antes na pousada para nos informar que a inscrição no Parque Paratepuy estava ok , porteadores a postos e comida para 8 dias já comprada. Na pousada ele estendeu uma espécie de mapa do Monte Roraima com todo o trajeto a ser percorrido com detalhes dos pernoites , tipo de alimentação, horas de caminhadas e pontos a serem visitados e abortados caso chovesse
, sendo substituídos por outros. Desde o início Gregory demonstrou todo seu profissionalismo, paciência e grande carisma que envolveu a todos com seu jeito de falar baixo , porém seguro e que ao longo do trekking foi se tornando uma espécie de guru ou mestre das montanhas . Ao fitarmos seus olhos oblíquos , negros e profundos que hipnotizava a todos eramos transportados por suas frases e histórias milenares à cultura índígena, mesclada a histórias atuais de outras expedições que ele vez ou outra comentava, tudo com imenso respeito e serenidade. Até agora, passados alguns dias ecoa em nós as frases do grande Gregory , nosso Mestre Yoda das montanhas!
Pousada Lauberge |
Minutos antes de partir numa 4X4 rumo ao Parque Nacional de Canaima |
Chegado o grande dia , às 9 da manhã apareceu uma 4X4 na frente da pousada pra nos buscar e transportar até o Parque Nacional de Canaima , o sexto maior do mundo em extensão aonde vivem uma das etnias da Gran Sabana, os índios Taurepang. Todos nos acomodamos e fomos informados que o Gregory iria nos aguardar já no parque com os porteadores e um almoço leve para iniciar a jornada.
Trecho antes de chegar na Aldeia de Paraitepuy |
Cada um assinou seu nome , data e contatos no livro do parque e após um delicioso sanduíche com suco e melão de sobremesa , fomos convidados pelo Gregory a iniciar a jornada com a palavra de ordem que escutaríamos por todo o caminho : " Listos" ? E assim começou a jornada.....
Primeiro dia : O trajeto é de 10 Km através da Gran Sabana, como é chamada essa região com vegetação que dá nome ao lugar. A Gran Sabana é habitada por índios Pemons de 3 tribos que convivem muito pacificamente ; Taurepang, Arekuna e os Kamarakoto. O caminho é de vários sobe e desce e estávamos tão empolgados que foi muito agradável de caminhar. Uma dica: passe muito protetor , leve boné e ande de manga comprida, o sol da Gran Sabana é implacável e embora vc não sinta pelo clima bastante ameno ele queima violentamente a pele desprotegida, até os porteadores de pele escura andavam bem protegidos, com lenços cobrindo o rosto.
Após 4 horas de caminhada , chegamos ao primeiro acampamento à beira do Rio Tek,. As barracas já haviam sido montadas pelos porteadores e após um banho no Rio Tek que revigorou a todos ficamos admirando os irmãos gigantes Roraima e Kukenán que se erguiam majestosamente e pareciam vigiar a todos na Gran Sabana. Ali na manhã seguinte seria feito a primeira filmagem com Drone pelo Djalmo Silva e sua parceira a Cidha Cunha que iam se revezando pra levar o equipamento e obter lindas filmagens da expedição. O sol foi se pondo e dando cores alaranjadas, douradas e vermelhas à Gran Sabana e em pouco tempo escureceu na aldeia/acampamento ... pouco mais tarde saiu uma janta comunitária do nosso grupo com o grupo de Curitibanos que voltava do Monte Roraima e que foi guiado pelo Rony irmão do Gregory. Jantamos juntos à luz de lanternas numa mesa de madeira um delicioso spaguetti á bolonhesa com muito queijo ralado e suco. Ali já se revelaram os mais comilões : Gabriel, Helio e Elder que sempre repetiam por maior que fosse a montanha no prato.. O Jantar foi regado a muitas risadas e Mércia, a mais animada e espirituosa de sempre, já amiga de um português barbudo que parecia muito a vontade no nosso meio. Assim antes de irmos pra barraca ainda assistimos ao nascer de uma gigantesca lua por traz do Monte Roraima..surreal demais para
descrever!
Igreja de Pedra |
Acampamento do Rio Tek |
Ao fundo Monte Kukenan |
Caminho em direção ao Monte Roraima e Kukenan |
Helio, Mércia, Gabriel, Elder, Diana, Joara , sentados Cidha e Djalmo |
Segundo Dia : O trajeto é de 12 Km e vai até o acampamento base incluindo a travessia de 2 rios, o rio Tek logo de saída e o Rio Kukenan uns 25 minutos adiante, após a travessia dos rios que a maioria fez só de meia , deixamos as mochilas na beira e nos jogamos no Kukenan onde parecia sonho ou surreal demais estar nos banhando no rio aos pés dos gigantes Roraima e Kukenán. Após uns 40 minutos, nosso mestre foi se ajeitando, levantando e quando ele disse a palavra " Listos" todos já estávamos quase prontos pra continuar, em minutos seguíamos rumo ao uma igrejinha lá no alto a uns Km dali...o sol estava forte e em alguma parada Gregory distribuiu maçãs fresquinhas e doces a todos, debaixo de uma sombra. E assim após uma parada nessa linda igrejinha de pedra que compunha com a paisagem um lindo quadro ali Gregory nos contou a história de um ser muito sábio que a milhares de anos andou na Gran Sabana e previu todos os acontecimentos futuros inclusive que o homem branco viria explorar e "descobrir" o Monte Roraima. Após essa parada os Km foram sendo vencidos até chegarmos no acampamento base aos pés do gigante Roraima...estávamos já bem cansados e consumidos pelo sol, pois nessa região do equador é muito forte e castiga a pele. Algumas núvens escuras apareceram no céu e já parecia se configurar uma chuvinha . As barracas foram montadas e a cozinha já estava montada encima de uma espécie de mesa de pedra que parecia ter saído dos "Flinstons" ali nosso jantar ia sendo preparado. Barracas montadas deixamos as cargueiras dentro e fomos tomar banho numa cachoeirinha a uns 150 metros, foi o banho mais gelado da minha vida....questão de minutos os pés congelavam até doer. Um detalhe, nos rios da Gran Sabana assim como no cume do Monte Roraima só é permitido tomar banho com sabão azul, porém isso não foi seguido muito à risca e era frequente até shampoo pra lavar os cabelos. A água desses rios deixa o cabelo com cheiro de água doce e não secos como a água salgada do mar que eu que fui criada numa ilha do atlântico estava mais acostumada. Foi bom assim o cabelo não ficava ressecado e mais fácil de pentear rsrsrs.
A noite após um reforçado jantar, Gregory nos invitou a sentar numa pedra próxima as barracas e se dispôs a nos contar a história de Macunaíma, um ser poderoso que deu origem a história e saga não só do Monte Roraima como de outras histórias conhecidas do nosso planeta. A voz de Gregory é baixa mas a fala é firme e muito bem articulada e parecia hipnotizar a todos, enquanto ele conta histórias e voz embarga e os olhos oblíquos marejam lágrimas, parece que sentíamos exatamente o que ele sentia, essa parte realmente nos tocou e provocou em todos um profundo elo de ligação na alma de cada um com o Monte Roraima, as histórias, os povos indígenas, a humanidade e o universo, sem exagero. A história de Macunaíma é intrigante além de rica em detalhes, tem semelhanças enormes com outras versões da história da humanidade como a contada pela tradição judaico cristã, ou a versão sumeriana no Épico de Gilgamesh , além das mitologias Astecas, Greco Romanas, Chinesa entre muitas outras, todas contam de um dilúvio de proporções catastróficas , e de um homem de caráter duvidoso mas que tem a incumbência de salvar a humanidade como é o caso de Noé , Utnapishtim , e no caso Makunaima, . Vale ressaltar que o personagem Makunaima não é o mesmo Macunaíma famoso da obra de Mario Andrade, mas há evidências de que este último tenha se baseado no mito indígena da Gran Sabana. Para mim e para o Elder foi "prato cheio" já que somos a muitos anos curiosos do tema "origem da humanidade" a partir de contos e mitos de várias civilizações , fazemos parte de um grupo que teve origem no ORKUT que fala especialmente dos Anunnakis e o mito da criação na mitologia sumeriana objeto de estudo de um grande escritor Zacheria Sitchin. O nosso guia ali revelou a nós grande parte dessa história de forma muito peculiar e que realmente nos tocou. Ao final da história todos retornamos pensativos para as barracas e mais tarde caiu uma chuva relativamente forte...alguns relataram água na barraca e tiveram que cavar uma canaleta pra escoamento, como estávamos meio em declive a água escoou sem problemas. Na ocasião da história Gregory também nos deu instruções de como nos comportar na montanha, evitar gritos, usar tons respeitosos , caminhar "todos a su ritmo y a su tienpo", e na subida principalmente prestar atenção onde pisa e toca e não ficar tirando fotos de forma distraída. Ele também nos disse que tocaríamos na parede a um certo ponto e ali é o ponto de entrada ao mundo que nos aguardaria lá encima, é ali que fica um dos guardiões de pedra que proteje o Roraima de seu irmão invejoso o Monte Kukenan.As histórias que Gregory nos contou é capítulo a parte vou descreve-las da melhor forma possível num anexo ao relato.
Alexis, Ronny e José no acampamento base preperando o café com arepas |
Eu, Elder e Gabriel..cada um com sua montanha no prato |
Terceiro Dia - Ao amanhecer como de costume às 4 da manhã os porteadores levantaram para fazer o café e a confecção da Arepas , o café era sempre bem reforçado , ou arepas ou Dom plim (espécie de massinha frita muito gostosa) ou panquecas . O recheio era sempre ou sardinha com molho ou geléia. No primeiro e ultimo dia teve ovos mexidos. Já sabiamos que esse era o dia da subida ao Roraima propriamente dito, pela Rampa e Vale de Lágrimas até finalmente alcançar o topo do Tepuy. A subida começou forte, duas ou três sequências de escalaminhadas bem íngremes , cansativas mas não difíceis de realizar. Fiquei um pouco pra trás com a Joara que não havia acordado muito disposta, mas não muito, coisa de 5 minutos , atrás de nós como sempre ficava um porteador fechando a fila. Nesse dia muitos grupos subiram e nas paradas para descansar iamos ultrapassando ou sendo ultrapassados....até chegarmos à parede e tocarmos ela pedindo permissão ao guardião do Roraima para adentrar ao mundo estranho de suas entranhas rumo ao topo. A subida que dura cerca de 4 horas no total, continuava, com algumas transições e vales até chegarmos ao passo das lágrimas que na verdade é uma cachoeira que cai levemente sobre o caminho pedregoso, ali todos colocam capas de chuva e protegem os equipamentos para continuar sempre com muito cuidado. Quando chove o caminho vira uma cachoeira e isso íamos constatar na volta! Passado o vale das lágrimas chegamos ao final da subida e em 15 minutos ou menos fomos pouco a pouco pisando no cume..emoção inexplicável, choro, lágrimas silenciosas de respeito ao lugar , uma porteadora me olhava no momento que cheguei ao cume , parecia curiosa para ver minha reação pois não tirava os olhos de mim, e então eu caí no choro de felicidade ao que ela sorriu como se já soubesse que era o que ia acontecer . Estávamos todos bem emocionados e algo incrédulos de estar naquele local estranhamente belo, misterioso e inexplicável , nosso guia abraçou a todos dando um daqueles sorrisos satisfeitos de quem mais uma vez cumpriu bem seu papel de guiar na montanha sagrada. Após algumas fotos, nuvens muito escuras começaram a se aproximar e então o Gregory com um olhar nos convocou a todos para segui-lo rapidamente até o nosso "hotel" que é como chamam as grutas ou cavernas onde se montam os acampamentos lá no cume. Eu , Elder e a Joara demoramos mais pra sair do local de chegada do cume pois estávamos ainda tirando fotos, até que percebemos um denso nevoeiro se aproximando e já não enxergávamos mais os outros que iam na frente, as capas e parkas coloridas características de quem faz montanha ajudava vez ou outra enxergarmos eles adiante, mas o solo que pisávamos era totalmente irregular, rochoso, intercalado por bancos de areia e poças de água e se parecia ao fundo de um oceano! A visão é de um filme de ficção científica, há morros de pedra no cume do Monte Roraima e formações rochosas de todo tipo e desenho que se assemelham a animais e pessoas ou perfis humanos, isso espalhado na superfície imensa do que parece ser outro planeta. A impressão é que naves alienígenas vão sair detrás das pedras ou que algum animal préhistórico irá surgir passeando pelo cume...Após o nevoeiro veio a chuva , o que dificultou ainda mais a visão do caminho. No Monte Roraima há centenas de caminhos, e os caminhos nada mais são as partes da rocha esbranquecidas pelo caminhar de pessoas pelo cume pelo mesmo lugar o que desgasta as pedras. Ainda assim é preciso conhecer muito bem, pois cada caminho desses leva a locais bem remotos e distantes. Posso dizer com certeza não ser aconselhável andar sem guia, a não ser que vc queira percorrer os 87 Km em círculos e testando cada um das centenas de caminhos e rastros nas pedras , o que levaria meses e não 6 ou 8 dias que é o que comumente se leva pra conhecer os principais pontos do platô.
Finalmente o nevoeiro se dissipou e o Rony, irmão do Gregory nos alcançou e mostrou o melhor caminho pra chegar no "hotel" que ficava em frente ao "Carro" ou "Maverik", monte de rochas que fica acima do cume do Roraima e que ficava de frente para o nosso acampamento na gruta. Deve ter cerca de 100 mts de altura e é o ponto mais alto do Monte Roraima ( 2.810 mts ).
Após trocarmos de roupa na gruta já com as barracas sendo montadas, percebi que uma das porteadoras não estava bem, e o Gregory disse que ela tinha febre e frio. Dei paracetamol e arrumamos roupas secas para ela que estava acompanhada da filha de uns 12 anos que vinha acompanhando o grupo. De almoço nos deram um sanduiche quente muito gostoso, uma espécie de baurú prensado com salada queijo e presunto, acompanhado de suco.Eu comeria dois desse rsrsrs mas um foi o suficiente. Foi então que o tempo abriu e o céu ficou limpo. O Gregory que me olhava preocupado propôs uma ida e subida ao "Carro" ou "Maverik", o ponto mais alto do Roraima. Todos toparam e fomos lá como se não tivéssemos feito esforço algum, em minutos estávamos no alto do carro e admirávamos "todo despejado", como eles dizem quando a visão é total. Ali no mirante do carro tivemos a visão espetacular dos paredões do Monte Roraima e de onde estávamos, era de tirar o folego, ficamos ali até o sol ir baixando e mais um espetacular dia foi findando, ..Voltamos à gruta e lá nos aguardava de janta um maravilhoso prato de macarrão com molho de linguiça. A noite veio, e com ela o cansaço e todos adormecemos. Ali alguns começaram a ter pesadelos e sensações estranhas à noite....
Mirador na subida da Rampa |
Eu e meu guia Gregory Lanz |
Rumo ao passo das Lágrimas |
No mirante Maverik já após chegarmos no cume |
Ponto mais alto do Monte Roraima |
En El Carro Maverik |
Gabriel , Mercia, Cidha, Djalmo e Diana |
Quarto Dia - Acordamos como de costume com o barulho do fogareiro à querosene que tem que ser bombeado manualmente, nesse dia foi arepas recheadas com molho de sardinha e muito café...como de costume alguns não aguentavam comer as duas e davam para os comilões : Gabriel, Helio e Elder que comiam sem deixar um farelinho. Eu guardava em papel alumínio o que sobrava para o lanchinho no meio do caminho...E assim à palavra de órdem " Listos" todos partiamos em fila indiana, nesse dia descobri que a melhor formação era o Gregory e Joara na frente, na sequencia o falante e energizado Hélio, o sempre bem humorado Gabriel seguido da Mercia que não andava lá essas coisas do estomago mas também não reclamava, na sequencia eu, Elder , Djalmo e seu Drone (que lembrava um Canguru com sua cria) e sua namorada a Cidha , nos acompanhavam a porteadora Gladys e sua filha que hora iam na frente hora iam atrás , e demais porteadores: Rony, Antonio, Alexys e demais..
Passamos por paisagens insólitas de todo tipo, o platô é imenso , chegamos ao "El fosso" , um imenso poço que parece mais uma cratera que ao fundo se vêem cavernas e um rio subterrâneo, belíssimo. Indescritível...... Continuamos andando pelo imenso e surreal cume que divide território de 3 países e assim nos dirigimos à tríplice fronteira onde está o marco que marca o ponto de intersecção da porção venezuelana, brasileira e guiana inglesa. Além dele muitos guias não querem ir, é considerado "peligroso" e cheio de mistérios, mas Gregory é dos que enfrentam esse receio e algo entre relutante e respeitoso aceita nos guiar para além desse limite mais desconhecido do Roraima. Fomos passando por vales e paisagens cada vez mais incríveis, entre elas uma formação rochosa imensa chamado de "A Águia" onde passamos tempo tirando fotos para depois seguimos mais 5 Km até chegar ao hotel Quaty, no total nesse dia andamos 12 Km cruzando o cume. O Hotel Quati parece cenário do Oriente Médio, tem algo de egípcio, é uma caverna no interior de uma formação rochosa muito bonita , alta e cheia de labirintos e poços de luz por onde entra a luz iluminando belamente o interior da gruta com seus lindos ornamentos naturais composto por folhagens e plantas belíssimas e exóticas.
As barracas foram montadas assim como a cozinha e seria ali que passariamos as próximas duas noites. Após o almoço fomos instruídos aonde podíamos tomar banho, próximo ao hotel em algumas piscininhas naturais de água cristalina e corrente , nada geladas, assim em dupla fomos todos buscar uma piscininha e tomar banho, lavar cabelo, lavar as roupas etc...
Após um descanso fomos todos ao mirante ali próximo, mirar o abismo brasileiro , entardecer belíssimo mas que em minutos começou a se transformar em escuridão por núvens ameaçadoras, voltamos à gruta.
Mais tarde começou a ventar dentro da caverna, um vento gelado o que nos obrigou a botar roupas quentes, luva e touca. Ao anoitecer uma nuvem invadiu a caverna e a luz das lanternas dava um efeito de balada em casa noturna dentro do recinto. Tudo era motivo de animação, porém essa e a próxima seriam as noites mais difíceis pra mim que já sentia os efeitos de vários dias sem contato em casa, quando viajo sinto muita falta de todos de casa especialmente da Jade a menor , embora eu confie muito nos irmãos maiores Gabriel, Giulia e Lucas que são mais que acostumados com minhas saídas à montanha , o coração aperta nessas horas e a noite parecia não passar. Lágrimas de saudades escorriam pelo rosto quase inundando a barraca rsrsrs e foi nessa noite que sonhei horas e horas com minha mãe já falecida. Conversava muito com ela, discutíamos diversos assuntos, e assim toda vez que acordava e me via naquele confinamento sentia a dor da saudade marcando cada minuto. Nessa noite o Djalmo também teve pesadelos de um desmoronamento e acordou aos berros, mas enfim foi acalmado pela namorada Cidha e tudo foi contornado. Por fim amanhecemos ao som do bombear do fogareiro de querosene preparando o café.
Amanhecer no Mirante do Hotel Quaty |
Elder "tocando" o sol |
El Fosso |
Triplice Fronteira - Marco |
Elder e Eu rumo ao Lago Gladys |
Djalmo e Cidha , e eu(Diana) |
Hotel em frente ao Maverik |
Quinto dia :
Já nesse dia todos apresentavam sinais de desgaste físico , e algumas oscilações de humor, o Helio um dos mais cheios de energia e que volta e meia fuçava em posição de lótus para meditar, já andava tendo visões e arrepios... e por vezes ficava irritado com uma ou outra coisa com o companheiro de barraca Gabriel que parecia ignorar completamente a irritação do parceiro de barraca, ao invés disso o montanhista da Black Rock Expedições estava mais ocupado em curtir a oportunidade aproveitando em todos os aspectos o momento que estava vivendo. Joara era a " Alice no pais das maravilhas" do grupo: tudo era bom, lindo e sensacional e nenhuma reclamação saia da boca dela, como andava sempre ao lado do Gregory o ritmo dela evoluiu e se nos primeiros dias teve oscilações a essa altura ela estava rendendo bem na trilha. Mercia a molecona do grupo que diverte a todos com suas tiradas uma hora soltou essa :" Ô Gregory dizem que não pode levar diamante nem cristal daqui porque revisam la embaixo...pois eu engoli um , agora quero ver !" Gregory só ria e parecia se divertir com os comentários hilários. O Elder , cético e incrédulo quando o assunto é lenda ou fábula, toda hora mencionava frases da história de Makunaíma e parecia não mais duvidar da veracidade das histórias, inclusive a dos espíritos guardiães que habitam o Monte Roraima e gostam de assustar os visitantes de noite provocando barulhos sobrenaturais... Eu alternava momentos de fascinação e euforia , com momentos de saudades da galera lá de casa...mas todos sabíamos que ainda faltava a parte mais desconhecida e pouco visitada do Monte Roraima : O Misterioso Lago Gladys, e também a "Prôa".]
Saímos todos para uma caminhada longa de 7 horas (ida e volta). O dia estava esquisito, após uma hora de caminhada chegamos ao Rio de Ouro, lugar belíssimo, paradisíaco onde corriam águas e mini cachoeiras douradas....realmente fantástico. Prosseguimos e então uma espessa névoa foi substituindo o céu azul e raios solares que brilhavam no Rio de Ouro. A névoa foi ficando espessa até termos que vestir as capas de chuva e fomos tendo que enfrentar o frio e humidade andando dentro dessa núvem. Ao chegarmos perto do abismo fechou de vez, não se via nada, nada mesmo nem um palmo, aguardamos uns 15 minutos e o Gregory nos chamou para segui-lo. Saindo dali, uns 20 minutos adiante chegamos ao lendário Lago Gladys, estava sem visibilidade , névoa espessa, então vimos o Gregory se afastar e se sentar silencioso. Passados alguns minutos , a névoa foi se dissipando e o vulto de algo enorme foi aparecendo, sim , era o próprio: O grande e misterioso Lago Gladys,
É visão de filme, dizem foi mencionado e descrito com detalhes no romance " O Mundo Perdido" de Arthur Conan Doyle. Muitos índios Pemons dizem que o lago não existe e sequer pisam lá, pois mistérios cercam aquele local e os raros que se arriscam a levar aventureiros como nós até lá, aceitam porém relutantes, como foi o caso de Gregory e demais porteadores. Ao chegar lá os porteadores mudaram de humor, pediam silêncio e a expressão era tensa. O próprio Gregory parecia cumprir um protocolo ou acordo que assumiu ao nos levar, mas os minutos eram contados. Tiramos incríveis fotos daquele imenso lago no cume do Monte Roraima, parecia que a qualquer momento um dinossauro ia emergir das suas profundezas. Gregory com uma expressão mais aliviada disse que o Lago Gladys tem poderes e que não aceita bem certas visitas , sendo frequente ao chegar la a chuva e vento forte, além de nuvens que o cobrem por completo , tornando o local "peligroso". Porém o Lago para nós foi gentil e permitiu-nos aberturas de tempo e lindas fotos. Ainda assim passados uns 20 minutos a névoa veio , fechando tudo, o mirante ali próximo, ou seja o abismo ficou absolutamente impossível de chegar perto, o tempo gelou e veio uma nuvem extremamente densa e molhada que nos envolveu, era hora de voltar. Iriamos até a Proa, outro ponto difícil de visitar, mas essa o Gregory foi terminantemente contra e sem espaço para " mas.." nos invitou a retornar . A volta passamos pelo Rio de Ouro e incrivelmente assim como na ida, ao chegar lá o tempo é outro, limpo, sol brilhante e quente! Coisas do Monte Roraima que parece por si só permitir acesso a alguns locais e outros simplesmente não. No Rio de Ouro uma reforçada macarronada nos aguardava pela equipe da cozinha, com suco lógico. Voltamos pro Hotel Quati na gruta cinematográfica , eu e Elder saímos em direção ao local de banho. Nesse locais a experiência é incrível , lá se tira a roupa e entra nas poças de água corrente ao ar livre na imensidão daquele platô mirando as esculturas e monolitos que parecem te observar por todos lados em formatos variados de animais, pessoas e guardiães. Passados uns 15 minutos percebemos uma névoa se aproximando, sinal que a visibilidade em minutos seria zero , avisei meu namorado mas ele parecia não se importar, eu catei as coisas e fui voltando chamando ele pra vir logo, em poucos minutos aconteceu o que eu previa, tudo ficou branco, segui as pedras brancas indicadoras do caminho e como eu sabia que o Hotel Quati ficava à direita consegui chegar lá a tempo porém olhei pra trás e nada do Elder, só névoa branca e espessa, fiquei de pé na entrada da gruta olhando ao longe e após uns minutos surgiu a silueta do dito cujo meio que procurando orientação , acenei com os braços e então ele me viu e veio rapidamente na minha direção . Fim da aflição de perder meu parceiro no "mundo perdido" rsrsrs. Anoiteceu e veio a janta, desta vez uma cumbuca generosa de sopa quentinha e gostosa, café e até pipoca depois pra completar...A Joara exultou ao saber que era sopa pois ela estava justamente dizendo que queria muito uma sopinha...
Nosso Mestre Yoda, o Gregory Lanz |
Misterioso e poderoso Lago Gladys |
Hotel Quaty |
Selfie do Helio , ao fundo Elder, Diana, Ronny, Gabriel, Joara, Mercia, Djalmo e Cidha |
Sexto dia:
Amanheceu e após o café rotineiro na gruta , já sabíamos que a partir dali o caminho era de volta, Nesse dia assim como em outros Djalmo e Cidha foram fazer algumas filmagens com o drone, porém este ficou rebelde e não quis filmar nada , subindo alguns centímetros na altura da Cidha sentada e caiu, até o drone parecia cansado da árdua jornada, mas não ocorreu nenhum dano sério. O acampamento foi sendo desmontado e sabíamos que tínhamos 11 Km de volta até o primeiro acampamento do cume , o hotel em frente ao "Carro Maverik ", perguntei ao Gregory o que mais iriamos ver nesse dia e ele pacientemente explicou o que tinha em mente: Ir até o Marco da tríplice fronteira, deixar as cargueira e ir aé o vale dos Cristais, retornar e prosseguir até o primeiro acampamento , almoçar , descansar e ir até as jacuzzis naturais , o abismo venezolano e por fim o La Ventana, um temível local que fica sempre fechado por núvens e que tem uma espécie de janela que dá vista para um abismo infindável, além disso é necessário pular algumas fendas mortais pra chegar lá...brrrr ansiedade. E assim foi, visitamos o Vale dos Cristais, é incrível, uma montanha de cristais sobre os quais vc caminha , pega punhados nas mãos, ou pedaços inteiros de Quartzos , gastamos uma meia hora ali escrevendo nome dos familiares com cristais e então Gregory falou a palavrinha mágica: " Listos"? E fomos em direção ao nosso destino , " El Carro"... não sem antes passar novamente pela "Águia " e o Vale dos Elefantes entre outros locais que já havíamos passado , porém agora era a volta . Chegamos na gruta/hotel que haviamos estado anteriormente e as barracas já estavam praticamente todas montadas pelos porteadores. O almoço foi arroz com feijão e alguns temperinhos muito bons, não era o feijão à moda brasileira, mas aí é querer demais, comemos com vontade aquele pratão sempre em formato de montanha que ganhávamos e comiamos como peões de obra kkkkk.
Após descansarmos da caminhada e almoço , Gregory nos convocou para irmos até as Jacuzzi , o La Ventana e o Mirante para o Kukenán. Listos? Siiiii...mas cadê o Djalmo e a Cidha? Gritei e chamei, mas nada foi respondido, tinham ido pegar água a um bom tempo mas nada , nem sinal deles....Chegamos à conclusão que estavam ali perto resolvendo algum assunto "particular" e pelo avançado da hora tivemos que partir sem eles que teriam que permanecer no acampamento esperando.
E assim saltitando sobre pedras e poças característicos do solo interestellar do Monte Roraima, chegamos ao local das Jacuzzi, todos cansados não se animaram a entrar, exceto eu e o Elder que nos metemos nas piscinas magníficas de tom esverdeado e fundo de cristal das Jacuzzi, é simplesmente surreal, os outros olhando de lado, meio com vontade, botando culpa nas núvens, somente a Mércia arriscou uma entradinha...enquanto isso eu e Elder tirando fotos e pulando de jacuzzi em Jacuzzi, foi então que surgiram raios de sol e derrepente , o Hélio( que na mitologia grega é a personificação do Sol) , pareceu renascer e foi tirando bota, roupa, se descascando todo e em segundos estava lá pulando e tirando as selfies características além das outras poses super legais que ele sempre tem muita criatividade para fazer.
Próximo ponto seria o mirante para o Kukenán, chegamos estava fechado, mas depois de uns instantes abriu completamente , deixando apenas algumas nuvens ornamentando a visão magnífica dali, em certo momento fui até a beira do abismo meio sem perceber para tirar foto, senti um arrepio ao lembrar que ali o descuido seria fatal e olhei pra baixo...me deu vertigem e ao levantar o rosto dei de cara com a expressão mais preocupada que tinha visto no semblante de Gregory até agora, com esse olhar saí de perto do abismo e me desculpei pois vi o quanto é estressante pra ele ver esse tipo de coisa pois jamais é indelicado , apenas dá todos os avisos e fica por nossa conta sermos cuidadosos ou não.
Gregory se animou com a abertura do sol e nuvens no mirante e nos propôs ir até o La Ventana, é ali perto, uns 15 minutos a frente, porém ao chegarmos lá tudo estava fechado, uma névoa espessa e nuvens passando por nós , me senti dentro de um vulcão de nuvens e atravessei a fenda mortal num passo, sem nem pensar o que poderia acontecer se um descuido acontecesse. Gregory se sentou, meditou , tiramos fotos do La Ventana, a formação rochosa em formato de janela...mas não , dessa vez não fomos aceitos, não abriu nada e Gregory nos convidou a voltar ao "Hotel". Não sem antes passar novamente no mirante para o Kukenán , ali sim novamente pegamos aberto e após umas últimas fotos retornamos.
Chegando lá Djalmo e Cidha já estavam na barraca bem tranquilos, sem demonstrar chateação por não terem ido, creio que eles gastaram bem o tempo deles sozinhos rsrsrs.
À noite sopa e café e começou uma chuva que durou a noite toda até o amanhecer pela primeira vez....De noite alguns tiveram seu momento de stress, o Helio deu um momento de loucura e saiu bem bravo da barraca irritado com o companheiro, com a barraca e sabe Deus com mais o que, eu que já não estava muito mansa, saí da barraca e também dei minha rodada de saia , mas em minutos nos acalmamos e fomos arrumar as coisas para o dia da descida e despedida do Monte Roraima.
Abismo venezuelano, vista para o Kukenan |
Jacuzzis |
Momento zena nas Jacuzzis |
No Vale dos Cristais o nome de meus filhos escritos com Cristais |
Sétimo dia : Minha intenção era ver o sol nascer no Maverik, mas não foi possível, pela primeira vez o Monte Roraima amanheceu chuvoso, arrumamos as coisas e Gregory nos avisou que a descida seria até o acampamento base mas não dormiríamos ali e sim almoçaríamos e após mais 12 Km de caminhada dormiríamos já no acampamento do Rio Tek. Uma puxada forte mas necessária pra cumprir o cronograma . A descida do Monte Roraima começou emocionante o Vale das Lágrimas estava forte, como choveu muito a cachoeira estava com vasão 100% e caia sobre o caminho pedregoso da descida transformando o Vale das Lágrimas em Vale da Chuva forte mesmo, vestimos as capas, protegemos as coisas em plásticos e com cuidado fomos descendo com a cachoeira nos empurrando pra baixo...após o Vale das Lágrimas o desafio eram os joelhos, o meu estava feito em frangalhos, se até ali ele deu pro gasto, dali pra frente foi na raça e sofrimento, cada pisada na descida eram mil agulhas no joelho , mas eu já tinha passado por coisas assim com meu joelho e sabia que melhor era não pensar muito e só descer...Solicitei bastante ajuda da mão do meu namorado na descida pra amortecer o impacto da descida no joelho mas ele mesmo também já tinha dores no pé e pouco conseguiu me ajudar. Mas chegamos no acampamento base. Fomos cumprimentados e abraçados pelo Gregory com um grande sorriso e nos brindou com fartas fatias de melancia geladinha que ficara escondida num plastico na cachoeira (geladeira natural) desde a nossa subida. Minutos depois saiu um caprichado macarrão parafuso estilo salpicão, com maioneses, atum , ervilha e milho...cada um ganhou um prato com uma montanha estilo Everest de macarrão. Como sempre o Gabriel morto de fome devorou a montanha dele a os restos de outras montanhas rsrsrs. Momentos depois estávamos novamente na trilha de descida rumo ao acampamento na aldeia do Rio Tek. Outros grupos desceram juntos e dois integrantes mais apressadinhos que nos ultrapassaram caíram na nossa frente de um jeito muito engraçado , mas continuaram a corrida deles pra chegar alguns minutos apenas antes que nós no destino final. Comecei a sentir cólicas e temi pelo que eu sabia que ia acontecer no máximo aquela noite...mulher tem mais esse inconveniente quando vai pra montanha, e no meu caso é um grande inconveniente pois além das cólicas acho que metade do sangue do meu corpo vai embora nesses dias...e foi isso mesmo , naquela noite fiquei "naqueles dias" e ainda teria o dia seguinte da volta até a aldeia de Paraitepuy, mas ...mais uma vez pensei, melhor não pensar, só prosseguir, era a reta final...
Nessa noite o jantar foi reforçado e após banho e lavagem de roupa no Rio Tek , comemos uma bela macarronada e fomos dormir já antevendo o final da jornada
Oitavo dia - Amanhecemos com dia incrível, e foi o meu café preferido : Domplim (massa frita) com ovos mexidos e café . Foi bom porque eu sentia tontura e fraqueza pelas cólicas , mas com esse café até me senti melhor e me preparei pra caminhada final. Respirei fundo e pensei : melhor começar num ritmo forte e constante pra não desanimar e esquecer da dor. E assim a caminhada começou, eu não tinha percebido mas na volta assim que sai do acampamento é só subida e naquele sol, aquilo foi me consumindo. Comecei andando forte e na frente mas após umas 4 ladeiras sob sol escaldante , senti a boca secar e o chão ficar esquisito de pisar, tontura e pedi pro meu namorado parar, tomei água , esperei aquela sensação passar e o grupo foi indo na frente. E assim foi o caminho todo, tontura , sede e cólicas fortes, mas meu lema nessas horas sempre é : Anda e não pensa! Ao atravessarmos o rio Kukenam , meu joelho também resolveu desisitir , e se juntou à minha cólica e ao sol escaldante , parecendo 3 demônios sentados encima da minha cargueira rindo do meu esforço...parece piada mas foi por ali que também começou uma dor de barriga kkkk aí apertei o botãozinho do foda-se e disse praquele monte de dores e desconfortos: Vão se foder, vou chegar lá e tomar uma Zulia e rir da cara de vcs! E fui com dor, cólica, joelho podre e tudo mais rumo ao final da jornada, afinal a adrenalina da chegada já começava a me ajudar! Por fim eu e o Elder chegamos um pouco depois dos demais ao Parque e avistei a todos já com uma Zulia na mão comemorando a chegada.
Cerveja Zulia para comemorar o êxito da expedição |
Fim da jornada. Ainda teve uma parada pra comer pollo assado numa aldeia em San Francisco já próximo de Santa Elena, ainda incluso no pacote, ali alguns compraram suvenirs e o Gregory nos presenteou com uma camiseta dos atrativos da Gran Sabana para cada um . Já a noite na pousada após banho maravilhoso e quarto geladinho pelo ar condicionado, já refeitos e satisfeitos saímos e fomos comer Hamburguesa muito deliciosa numa lancheria que fica embaixo de um Hotel do Centro de Santa Elena.
Já sentíamos falta do Gregory e ele de nós, pelo jeito , que foi nos ver na pousada mas justo tínhamos saído pra jantar.
Dia seguinte ainda curtimos o café na padaria e chamamos os taxistas que haviam trazido metade da galera na vinda. Foi ótimo pois eram dois carros bons , com ar condicionado e pararam pra almoço num restaurante já no Brasil , após a fronteira chamado "Quarto de Bode" , onde comemos comida caseira, com direito a feijãozinho cremoso e paçoca de carne seca e claro , cerveja gelada!
Almoço no Quarto de Bode |
Não podia ter sido melhor..Uma jornada cheia de aventuras, percalços, dificuldades sim ,porém insólita, profunda e que promoveu uma transformação interna mais que externa em todos nós. Pessoalmente não só superou minhas expectativas como aventureira ou montanhista mas me levou a uma experiência ao mais selvagem e elevado ao mesmo tempo, me senti conectada com aquilo que muitas vezes havia duvidado. Agradeço ao nosso guia e mais que isso um mestre das montanhas e da vida, um dos seres mais singulares que conheci o Gregory Lanz e sim também toda sua equipe sensacional e comprometida. Já tenho vontade de voltar e ve-los a todos, assim como de pisar novamente na Gran Sabana. Recomendo aos amigos, aos meus filhos e a quem mais puder ter essa experiência única e se possível com ele, o guia Gregory Lanz. Os contatos dele deixo aqui e super recomendo para os que quiserem além de um excelente guia, um líder, contador de histórias e mitos, e profundo conhecedor do Monte Roraima, filho de um explorador que já visitou o Kukenán e saiu vivo de lá.
Gregory Lanz : +58 - 414 - 9856973
lanzhunter@hotmail.com
O grupo no Whats App continua até hj...na volta para Floripa ainda passei com meu namorado na Chapada das Mesas , próximo à cidade natal do meu sogro Carolina no Maranhão, Mas essa é uma outra história....
Abaixo alguns mapas e ilustrações da Gran Sabana :